28 fevereiro 2011

Marvão - a estatistica

Não vou entrar em concorrência com os grandes escritores que já frequentam o nosso blog e por isso vou-me limitar à estatística.
Como sabem confirmo sempre os nossos tracks naquilo que é considerado o melhor site de análise de tracks de BTT. E surpresa das surpresas, parece que ficamos a 3,99m de fazer 2000m de acumulado. Se soubesse tinha subido duas ou três vezes a uma mesa. Por isso já podemos dizer com verdade que os Trinca bateram o limite dos 2.000m.
Nota: o Brites desceu e subiu mais com o tralho que deu…..




27 fevereiro 2011

O calvário da Serra Fria

Todos os passeios têm a sua história. Gosta-se mais de uns do que de outros, sofre-se mais nuns do que noutros. Mas uma coisa é certa, é na simbiose entre a aventura e o espírito de sofrimento que vamos buscar o prazer tão reconfortante destas jornadas, que, além de reforçarem os laços de amizade, vão proporcionando momentos de rara beleza, onde ficamos a conhecer um pouco mais do nosso País (e já agora do país de nuestros hermanos) e das suas gentes.
No que me diz respeito, este foi um dos passeios mais bonitos que os Trinca Pedras fizeram, mas também um dos mais duros. Os 77 quilómetros percorridos, na companhia do pessoal do BTT Almonda, e os quase 1800 metros de acumulado não são suficientemente representativos da dureza do percurso, que durou aproximadamente 9 horas, tendo a volta acabado por volta das 19h00, já com a noite caída sobre Santo António das Areias, pequena aldeia que serviu de ponto de partida e de chegada, situada no sopé da Serra do Marvão.
Logo pela manhã, tinham-me informado que os primeiros 20 quilómetros seriam os mais difíceis. O que alguém se esqueceu de dizer foi que os primeiros 20 quilómetros seriam duríssimos, com um acumulado acima dos 1200 metros, já que na primeira parte do percurso, ainda em solo português, e logo no início, tivemos de “atacar” a Serra do Marvão (867m), para ao início da tarde começarmos o calvário na Serra Fria (953m). Estas duas serras fazem parte do sistema montanhoso do Parque Natural da Serra de São Mamede, que além da Serra de São Mamede, com os seus 1025 metros de altitude, tem ainda a Serra de Castelo de Vide (762m). Opções que ficarão para uma outra oportunidade.
A subida ao Marvão foi dura, mas logo esquecida assim que chegámos à vila do Marvão, com uma lindíssima vista, sob um sol primaveril, vislumbrando-se, num dos horizontes, o manto branco da Serra da Estrela.
Após a visita cultural àquela aldeia, onde nem faltou uma ida à cisterna do Castelo do Marvão, o grupo iniciou a descida até à Portagem, em caminho empedrado e com muita pedra solta, que desaconselhava largar-se o travão em demasia, testando a resistências das bikes (e já agora dos braços).
Já na Portagem, local simpático e a sensivelmente 10 quilómetros da fronteira com Espanha, “trincas” e “almondas” preparavam-se para começar a subida para a Serra Fria, mas não sem antes haver uma acesa e produtiva discussão filosófica sobre a melhor forma de se atravessar o Rio Sever. O resultado não foi consensual e um pequeno grupo de “iluminados” lá decidiu optar por uma solução pouco ortodoxa, que incluiu andar com as bikes às costas, perdendo-se algum tempo, o que originou de imediato o raspanete do Brites.
Minutos depois, e já pela frente o segundo pico do dia, eis que surge um homem, idoso e sapiente, a avisar a juventude para os perigos que se avizinhavam: Uma caça ao javali.
Perante este alerta, reagrupámo-nos, mas, verdade seja dita, pouco crédito dei ao aviso que tinha ouvido, porque lá pensei que seriam alguns “gatos pingados” atrás dos animaizinhos. Só algum tempo depois é que comecei a perceber a dimensão da caçada. Na verdade, tínhamos entrado numa autêntica “War Zone” entre caçadores e javalis, com um grupo de “malucos” em cima de bikes no meio de potencial fogo cruzado.
Mais adiante, e após uma instrutiva conversa com um caçador, lá chegámos à conclusão que não era boa ideia andar num local com cerca 150 caçadores, com dedo no gatilho, prontos para disparar contra qualquer coisa que mexesse.
“Trincas” e “almondas” bateram em retirada e começaram descer até à estrada, num percurso com muita pedra solta, para o qual, conta quem viu, o Brites não teve as mãozinhas suficientes (parece que houve alguém que se meteu à sua frente, segundo o Brites).
A caçada obrigou o grupo a fazer um desvio por alcatrão, antes de apanhar novamente o “track” em direcção ao pico da Serra Fria. No entanto, nem todos optaram por este caminho, tendo seguido outro percurso, penso que devido a alguma confusão, que é perfeitamente normalmente nestas situações (ao meio da tarde, quando reagrupámos, falei com o Nuno, que me tinha dito que nem sequer se tinha apercebido da separação do grupo).
Seja como for, eu lá fui um dos que segui com o grupo que começou a subir para a Serra Fria, convencido de que seria mais um desafio que, com mais ou menos dificuldade, se venceria. Como estava enganado.
Digo-vos que foi das subidas mais difíceis que fiz até hoje. O piso era péssimo, com muita pedra solta, e nalguns momentos, o nível de inclinação era muito acentuado. Além da longa distância da subida, andámos tipo montanha russa. Segundo o Rui me disse, chegámos aos 800 metros, para descer aos 600 e, finalmente, na estucada final, voltar a subir acima dos 900 metros, já em terras espanholas.
Outras das principais causas do calvário que estávamos a viver, foi o factor psicológico. Atrás de cada monte escondia-se um outro monte, e quando finalmente, já no limite das minhas forças, esperava ter chegado ao topo da Serra Fria, logo seguido do João T, eis um cenário simplesmente avassalador (as fotos do Brites são elucidativas).
Perante mim tinha um vale de dimensões astronómicas que me separava do meu destino, os tais 900 e tal metros de altitude. Ora, tinha pela frente uma descida mortífera de pedra solta que me levaria dos 800 aos 600 metros e depois uma parede que nos levaria acima dos 900.
Cá em baixo, no vale, parei para retemperar forças antes de voltar a subir. O João nem sequer parou e lá foi ele em grande forma. Eu aproveito a boleia, mas esqueçam, a determinado ponto é o João a empurrar a sua Scott e eu a minha Lapierre. Se querem que vos diga, não conheço ninguém que conseguisse subir aquilo tudo em cima da bike.
Quando finalmente chegámos ao topo, a sensação é fabulosa, e apercebemo-nos da dimensão do vale que acabáramos de vencer. Com grande esforço, lá vimos uns pontinhos em baixo, os nossos companheiros a iniciarem a derradeira subida.
Tal e qual um verdadeiro calvário, eu fiquei com as minhas marcas, das quais nunca cheguei a recuperar. E aquele sentimento de satisfação quando se chega a um pico destes, rapidamente se transformou num tormento. Penso que o João Pires é um dos que me compreende bem.
Eu só pensava numa coisa: Tinham passado apenas 20 quilómetros. Faltavam 50 (Outra crónica se seguirá).

25 fevereiro 2011

The Chia Factor (Parte 1)

Em Marvão, mas muito bem preparado. Para além de conhecer quase de olhos fechados o percurso e, sobretudo, os possíveis atalhos, levo comigo um frasco com Chia.
Não não é a bicicleta que chia, são sementes de Chia, uma labiada originária da América Central e que fazia parte da medicina tradicional dos Aztecas e Incas.
Chia significa força. Os antigos guerreiros aztecas usavam-nas como um alimento energético e de resistência, sendo conhecida como o alimento, muitas vezes o único alimento, usado em caminhadas. Por isso comecei o percurso no sábado com uma mão cheia de sementes no papo e preparado para uma volta a solo.
Mas antes de falar sobre a volta (reparem que não disse o passeio), as coisas mais importantes: Os ausentes que se fizeram notar - as melhoras a todos; Um agradecimento aos companheiros dos Almondas, rápidos, velozes e bem animados; Uma referência à hospitalidade do Pau de Canela e do Gary do Camping Asseiceira.
A volta começou ... a subir, por caminhos que deixavam antever um dia extraordinário. O tempo ajudou, céu claro, temperatura amena. Tudo a 100%. Olhando para o que tinhamos previsto a "volta" parecia simples. Rolar na plataforma granítica que rodeia os picos de Marvão e da Serra Fria e subir, subir, os referidos picos.
Mas a planície não era verdadeiramente uma planície e a subida para Marvão foi dose, e embora o cenário de granito, de castanheiros e de carvalhos, deixasse todos com água na boca e de olhos bem abertos, é certo que todos tinhamos apenas olhos para Marvão e o seu castelo, que dominava todo o horizonte.
Apesar das más linguas, eu estive em Marvão (embora a uma cota mais baixa). Foi aqui que fiz o primeiro corte deixando as alturas para outros e fui por ali abaixo. Apanhei o antigo caminho de Portalegre, uma calçada de xisto rolado, com travessas em X de xisto também. Se a bicicleta não se desmanchou ali, então é porque nunca mais se há-de desmanchar. Esperei pelos outros (numa cena que se havia de tornar comum) junto à ponte da portagem, local que dava inicio à segunda grande subida em direcção à Serra Fria. Aqui tivemos um precalçozinho. Tão só uma montaria ao javali, gigantesca. Dezenas de caçadores, dezenas de cães e sobretudo dezenas de espingardas ameaçadoramente colocadas nas mãos de ávidos e pelo que parecia um pouco palermas, de caçadores que pelo aspecto poderiam muito bem vir a confundir um ciclista com um javali. É claro que em certas ocasiões parecemos uns porcos, mas neste caso ainda íamos limpinhos. Em todo o caso a situação parecia complicada pelo que a direcção da volta (eheh) decidiu (e bem acrescento eu que já ia a protestar com a ineficiência da Chia) descer e voltar à estrada nacional, afastando-nos daqueles malucos de carabina ao ombro.
Depois de uns kms a rolar em estrada, os protestos subiram de tom e na primeira oportunidade deixaram-me sozinho (consta que alguns foram até aos 950m na Serra Fria, mas enquanto não vir a foto junto ao marco geodésico não acredito. Parece que confundiram caminhos com aceiros e andaram com as burras às costas). Eu pela minha parte, fui calmamente, estrada fora até que de repente me apareceram as cristas de Puerto Roque, imponentes, com os abutres e grifos a esvoaçar sem esforço e é claro que não resisti a umas paragens mais prolongadas para umas fotos e outras explorações.
Para estas voltas longas o gps é uma ferramenta indispensável para uma boa coordenação do grupo. Apesar de gostar de andar sozinho, também gosto de andar com os outros e tem alguma piada ficar para trás e aparecer à frente do grupo num cruzamento do caminho ... não se esqueçam é do telemóvel para se manterem em contacto uns com os outros. Um grupo grande como este, muito espalhado deve manter uma capacidade de comunicação elevada e eu, o palerma que ainda por cima andou a maioria da volta sozinho, deixei o meu no carro.
Estas cristas são de facto imponentes. Apeteceu-me mesmo trepá-las, mas só em Espanha a seguir a El Piño, uma aldeia com muitas casas, um largo, um chafariz, um cão e nenhumas pessoas é que tive a oportunidade de as trepar fazendo companhia ao Nuno que andava por ali (eheh).
Por esta altura do campeonato já tinha consumido 2/3 da comida que levei e acabei com o resto antes de arrancar para a segunda parte do percurso. Reservei uma banana, dois geis e uma barra (e se faço esta referência aqui é porque esta banana acabou por dar história), e claro ainda tinha de contar com o efeito da chia ... mais tarde ou mais cedo haveria de o sentir.

Um compasso de espera e pus-me a andar até porque seria apanhado pelos outros. Conto o resto na Chia parte 2.


Bike route 836262 - powered by Bikemap 

23 fevereiro 2011

Marvão BTT Raiano (Dia D-3)

Eu vi um sapo ....

Parece, pelo menos é o que corre nos emails do grupo, parece que o Carlos vai ter de engolir um sapo. Vai daí decidi explicar melhor o que ele pode ter de engolir.
O cardápio é grande já que ocorrem na área do PN da Serra de S. Mamede 14 das 17 espécies de anfíbios da Fauna Portuguesa. É obra, ou o que se costuma chamar um belo hotspot.Entretanto no que diz respeito a répteis ocorrem 20 das 27 espécies. Façam favor de evitar atropelamentos.
Voltando aos sapos, a espécie que escolhi Carlos, é um Alytes obstetricans - Sapo parteiro, que há alguns anos não vejo. Valia a pena observar. Assim, pelo sim, pelo não, vou levar um camaroeiro na mochila(pode ser que assim consiga fazer umas paragens mais prolongadas ...)

Para os mais interessados ou curiosos deixo-vos os links da praxe:

ICNB, página do PNSSM;
Amphibiaweb já com a selecção de espécies portuguesas.

22 fevereiro 2011

Ai !


Bike route 830538 - powered by Bikemap 

Marvão - BTT Raiano (Dia D - 4)

"Carabineros, carabineros"

Tenho andado à procura de uma passagem sobre o Sever que me permita encurtar o percurso. Por uma razão, que agora percebi, não existem passagens óbvias.
Deve-se ao facto de nesta zona, à semelhança do que se passava em toda a raia, o contrabando, neste caso sobretudo de café, ter sido durante várias décadas uma actividade económica de grande importância, com repercussões na vida quer do lado português quer do lado espanhol.

Neste texto, sobre o contrabando na raia alentejana e as suas vicissitudes, relatadas na primeira pessoa por um protagonista desses tempos, surgiu uma explicação óbvia.

"... o rio Sever é corrente refrescante e também mote a muitas histórias. «Quantas vezes não ficámos aqui, junto ao rio, à espera que baixasse para podermos passar. Não podíamos ter ajudas nenhumas no rio, senão os guardas identificavam os trilhos e aí estávamos tramados», diz José Cristino ...".

Pois é, em bem vasculho o google e a cartografia disponibilizada no site da CM de Marvão, mas não encontro evidências de passagens a vau e muito menos de pontes. O mais parecido que encontrei é uma zona onde existem caminhos muito perto do rio, em ambos os lados. Resta saber se o rio me permitirá passar a vau ou, tal qual contrabandista em versão modernaça de bicicleta às costas terei, não de espreitar a passagem da Guarda Fiscal e dos Carabineros, mas de me fazer ao rio e verificar a sua temperatura. Pode ser que a minha burra seja mais rápida e não seja apanhado.


Os trilhos do contrabando são um recurso turístico importante e têm desenvolvimentos importantes em todas as zonas fronteiriças desde o Minho ao Algarve. Deixo-vos alguns links :
Caminhos do contrabando.
Marvão. Nos trilhos do contrabando

21 fevereiro 2011

Marvão - BTT Raiano (Dia D - 5)

A melhor parte numa saída deste tipo é a sua preparação. Gosto de prever, espreitar e perceber por onde vou andar, o que, com a miríade de fontes disponíveis, é tarefa até muito fácil.
Desta vez a zona oferece-nos inúmeros pontos de interesse e vou aproveitar este post para ir enumerando alguns que for descobrindo até ao dia da volta. Assim esqueço-me, ainda que fugazmente, dos 60 e tal kms previstos para o sábado.

A Raia
A atmosfera raiana é especial. Estas zonas transfronteiriças gozam de características culturais muito próprias e são ricas em lendas, histórias e muita malandrice. Para lerem um pouco mais sobre este assunto, nada melhor que os textos de um raiano alentejano. aqui.

A Geologia
Quando olhei para o traçado do Luis no google earth, uma estrutura geológica chamou-me logo a atenção pela extensão. Acabei por perceber que se trata das "Peñas de Puerto Roque", um spot de escalada famoso. Eis uma descrição, que podem consultar na íntegra aqui: "... começa em Marvão onde se eleva bastante (857m), formando um pequeno anticlinal apertado ... Em Espanha forma uma crista estreita mas muito saliente e rectílinea que se alonga para sueste por mais de 20km". O trilho desenhado pelo Luís, sobe aos 900m (ai) acompanha esta crista, no topo, em toda a sua extensão (eu devo cortá-la a meio, eheh, sempre poupo ali uns kms).

PL

13 fevereiro 2011

Dia da borrasca

Hoje lá fomos nós de novo a Bucelas. o JT tinha planeado uma volta porreira com dois grandes objectivos. O primeiro era fazer a cumeada por cima da Crel no sentido contrário à semana passada. O segundo era subir a parede que ruma a Montachique e depois descer para subir de novo a Alrota e descer o trilho do Boição.
Infelizmente o tempo não ajudou. Pois por volta das 09.30 começou a chover bastante. E como estavamos no alto e o frio mais intenso, as gotas de água pareciam laminas a cortar a cara. Foi hora de vestir os impermeaveis que acabaram por fazer pouco trabalho. A chuva era mesmo muita.
Decidimos então descer e regressar a Bucelas para terminar a volta. Mesmo assim deu para fazer 20kms. Não fez grande mossa até porque faltavam elementos que estavam de cama.
Uma nota para os visitantes, O lomba e o Vitor, colegas do Brites
Para a semana voltamos lá.


















Abraço
Pirex

10 fevereiro 2011

Missão de Salvamento

Tenho que partilhar isto convosco. A actividade de BTT é de facto muito compensadora.
Hoje fomos para uma habitual nocturna na Galega. Eu o João e o Brites. Mas desta vez, havia uma coisa fora do comum. Havia uma família inteira que andava à procura de uma senhora idosa que estava desaparecida desde as 3 da tarde.
A noite estava húmida mas não tão fria como é habito. E quando começamos a pedalar encontramos parte das pessoas que andavam já desesperadas à procura da senhora.
Decidimos dar uma volta pelas redondezas. Podia ser que alguma coisa surgisse.
E andamos a remexer recantos pela Galega. Até que chegou a uma altura em que aos poucos fomos metendo pela terra. Bem, já que estávamos metidos na lama, lá fomos avançando. Sempre pelos trilhos iniciais. E andamos, andamos. Ás tantas passamos num túnel cheio de água e o Tuga decidiu meter-se no SPA. Isso, caiu na água. Isto estava a prometer.
Mais tarde e num caminho sem saída o Tuga decidiu atirar o Brites ao chão (já que ele não cai sozinho) e ficaram os dois embrulhados com as bikes. Lá desenrolamos o nó e depois de muita risada e muita lama metemos num caminho junto a um terreno da minha família e onde eu fiz a minha infância. Foi ai que ouvi os gemidos da Senhora e é isto. Encontramos a senhora, toda molhada e deitada na lama.
Mais não conto. Apenas ficamos com a sensação de dever cumprido. Salvamos uma pessoa.

Abraço
Pirex

08 fevereiro 2011

Bucelas - A verdadeira História

Acho que nenhuma volta dos Trinca-Pedras alguma vez tinha recebido tantos Posts de uma só vez... Este facto atesta bem a qualidade da volta realizada no passado domingo... Foi de facto um volta com direito a uma classificação de 5 estrelas...

Óbviamente que quando lá andamos a pedalar, não achamos assim tanta piada às subidas... Especialmente quando as pernas começam a doer, as forças a acabar, o calor começa a apertar e a vontade de bater no JT, aumenta à medida que curva após curva, em lugar de atingirmos o cimo da subida, vislumbramos a continuação da mesma... Claro está que depois de atingirmos o cimo da subida, sentimos uma sensação única de... de... Bem... Só sentindo... E vivendo... É espetacular... Ainda mais quando a paisagem que se observa, faz esquecer todo o esforço e dificuldade para vencer a subida...

Esta foi uma volta bastante dura, devido em vários aspectos... Em primeiro lugar, devido ao frio que se fazia sentir no inicio da volta... Cerca de 0º... Começar a pedalar com esta temperatura, não favorece absolutamente nada a pedalada... Em segundo lugar, porque foi composta por 4 exigentes subidas... Umas mais compridas que outras, umas com maior ou menor inclinação, no entanto, atribuo um grau de dificuldade igual para cada uma delas... Por último, a extensão, que não sendo muita, a dificuldade das subidas, tornou a volta mais exigente...

Mas é quando as coisas são dificeis que tem um sabor especial depois de conquistadas... Para somar a este facto, a beleza natural das paisagens que observamos... Foram a cereja no topo do bolo... Pessoalmente não imaginava que num local tão próximo de Lisboa e com tantos eixos rodoviários na sua proximidade, pudessem esconder uma beleza natural tão espetacular... Só lá estando para apreciar... Contando, não consigo encontrar palavras...

Esta volta começou logo no sábado à tarde... Chamada do Tremoceiro:
"Luis, viste o meu mail? Não, qual mail? Ok, eu explico-te! Tenho o meu pedaleiro desapertado! Sim, então vais a uma oficina? Não, combinei com o Pirex ir amanhã meia hora mais cedo, para resolver o problema! OK, já percebi, não há problema! Sim, vais ter de acordar meia hora mais cedo!!! Quê???? :-)"
Portanto, Tiago não te queixes que acordaste muito cedo... :-)

Às 8h05m já o telefone tocava... O Pirex tinha chegado a Bucelas e já estava a perguntar onde andavamos... Mesmo à entrada de Bucelas, respondia o JT...

O termómetro marcava uns miseros +1º e o mostrador apresentava o simbolo de gelo... BRRRR... Estavam menos 12 ou 13 graus que em Alfragide quando saimos de casa...

O Pirex e o Nuno com o apoio do João Tuga, lá arranjaram o pedaleiro do JT... Mas a sentença seria ditada pelo Nuno e pelo Pirex: "JT, mais cedo ou mais tarde vais ter de entrar em despesas!" Isto para desânimo do JT, que começa a não achar muita piada a estes caprichos dos TPOs, que se lembram de trocar tudo e mais um par de botas na bicleta... Vejam bem, que o homem andava com bichas das mudanças há cerca de 5 anos, e na última sessão de manutenção, o Nuno ditou que se haveria de trocar a bicha das mudanças de trás... Que grande panasca este Nuno... Como não tem força nas mãos para meter as mudanças, lembrou-se que o melhor era trocar as bichas... (Tás a ver o resultado??? Tás??? O homem agora ainda pedala mais...)

Mas voltando ao tema do pedaleiro do JT, eu ainda sugeri aos TPOs que em lugar de óleo, metessem cola no pedaleiro... Para ver se o JT andava mais devagar... Chiça... O homem já cheira mal de tanto pedalar...

Por volta das 8h45m e para desespero do Rui, lá começamos a pedalar... As pernas recusavam-se a rodar... As orelhas congelavam... As gargantas reclamavam do ar frio que entrava pelas narinas congeladas... E ainda não refeitos do choque térmico, eis que surje um choque fisico... Ou melhor, uma violentação para o corpo... Uma subida em piso de cimento com uma inclinação de encostar o nariz ao guiador da bicicleta... Porra... Que violência... Como se não bastasse a dificuldade da subida, ainda sinto o JT na minha roda a fazer pressão no meu andamento... Ó cum caneco... O gajo já começa...

Paragem para umas fotos... Ainda nem tinhamos atingido 1/3 da subida...




Continuando a pedalada, saimos do piso em cimento para piso em terra batida... A terra batida foi gradualmente dando lugar a pedra solta... A inclinação foi aumentando... Uns seguiam com a bicicleta à mão... Outros (JT incluido) seguiam montados... Pensei... Este é o meu terreno... Tenho de fazer tudo montado... Atrás de mim, sentia a respiração ofegante do Pirex... O gajo esmerdou-se todo, mas desmontar é que nem pensar... LOL...

A certo ponto, o caminho terminava... Tivemos de carregar as burras à mão pela montanha acima... Literalmente... Parecia escalada com as biclas às costas... Mas BTT é isto mesmo... Faz parte... Apesar da parte final da subida, a paisagem quando chegamos ao cimo, fazia esquecer a subida ainda com os músculos a frio a queixarem-se do esforço... Muito fixe...


Depois de uma pequena paragem para reagrupar e para recolher o Paulo Lopes que se tinha antecipado na subida, retomamos o Track que o JT tinha traçado... Durante alguns kms e num sobe e desce constante, sempre pela cumeada da montanha, chegamos a uma zona privada, propriedade da Cimpor que tinha dois caminhos possiveis... Ou optavamos pela ida a Alverva/Alhandra, ou então iamos directo a Calhandriz do outro lado da Auto-Estrada. Claro que a maioria optou pela via mais comprida, no entanto, o Paulo antevendo a dificuldade, ficou-se por ali, e rumou a Calhandriz, para ser recuperado mais tarde pelo Grupo.

Assim, seguimos caminho até ao final da cumeada, muito próximo de um marco geodésico. E foi aqui que pudemos desfrutar de uma paisagem brutal... De cortar a respiração... Pena estar alguma névoa, porque a paisagem sobre o Rio Tejo e todo o Mar da Palha é simplesmente brutal... É daquelas paisagens que vale a pena repetir...


A partir daqui só nos restava uma opção... Descer até Alverca... E foi o que fizemos... Momento alto do dia, com uma descida de aproximadamente 2kms e muito divertida... Especialmente para quem gosta de descer depressa, como é o meu caso e do Jorge Matos...











Até Alhandra o percurso foi feito por asfalto, sendo que passamos por algumas populações e bairros da periferia de Alverca, bastante engraçadas... Numa delas, vimos uma quinta majestosa, com uma dimensão gigantesca... Devia ter umas 10 assoalhadas... No minimo... LOL...

Nas proximidades de Alhandra, começamos a subir mesmo por cima da fábrica da Cimpor em Alhandra... O inicio da subida foi calminho com o JT e o Rui na dianteira enquanto o pelotão rolava ligeiramente mais abaixo... Eu rolava a meio dos dois grupos, antes de me juntar ao JT e ao Rui... A dado momento o Rui quebrou e ficou para trás... Segui eu e o JT...

E foi aqui que ocorreu um episódio engraçado... A certo momento, o JT quis exibir a sua boa forma e vai dai... levanta o rabo do selim... E começa a pedalar em pé feito maluco... Pensei... Olha... O gajo quer descolar... E foi aí que decidi que até podia ter que comer merda, mas não o iria deixar descolar... E não é que tive de comer merda para o acompanhar???? Dasse... O homem tá...

A meio da subida, ainda tivemos tempo para uma fotos sobre Alhandra e já no topo, houve tempo para umas brincadeiras...


Já em pleno cume da montanha, apanhamos um single-Track com uma paisagem que em tudo fazia recordar a Serra D'Aire... Segundo o JT, esta serra possuia uma composição calcária, tal como a Serra D'Aire... (As coisas que estes gajos sabem... Chiça...)

Aqui fica um filme realizado pelo Zé do tal Single-Track...


Logo depois do Single-Track encontramos uns camaradas de pedalada que nos fizeram um pequeno resumo dos possiveis caminhos a seguir ali na zona... Ficamos com água na boca para voltarmos no futuro... Temos muita matéria prima para trabalhar...

Apanhamos então um caminho centenário, em calçada que tudo indica seria usado há 200 anos para ligar Lisboa ao Norte do País... Seria a via da Mala Posta? Talvez não, porque esta tinha um trajecto mais próximo do Litoral... Enfim... Espetacular... Ficamos todos com vontade de voltar a este troço da volta, para explorar com mais calma...

Bem, e quem sobe tem de descer, pelo que, tivemos uma pequena descida para recuperar... Mas as descidas nas voltas guiadas pelo JT não dão para saborear convenientemente... Fico sempre com a sensação que ele me está a enganar... É que após uma descida... Vem sempre um GRANDE subida... E como seria de esperar... Eu não estava enganado...

Confesso que foi a subida que me doeu mais... O video mostra porquê...

Já com alguns kms e subidas nas pernas, esta foi uma daquelas subidas que me deixa profundamente irritado... Por sorte, o JT estava já lá em cima, caso contrário, teria de me ouvir o tempo todo :-)

Bem, mas as subidas ainda não tinham terminado... Julgava eu que dali, seguiriamos directos para Bucelas, quando em São Tiago dos Velhos (ou algo assim do género), tivemos uma pequena paragem para decidir qual o rumo a seguir... Quase todos defendiam que deveriamos ir directos a Bucelas (tal o empeno...), enquanto OUTROS (aqui leia-se... o JT), defendia que o Track indicava para a direita, portanto, o melhor era seguir o Track... E não é que todos seguiram o JT?!?!?! Está-se mesmo a ver qual o resultado, não está???? Claro, mais uma PU... de uma subida... Daquelas que provocam alucinações... Quando isto acontece, começo a imaginar-me numa piscina daquelas nas Caraíbas, sentado no balcão do Bar e a beber um cocktail qualquer... Mas claro que isto são apenas alucinações provocadas pela falta de açucar no sangue...

Quando chegamos ao topo da subida, ali estava o JT com o Pirex com um ar muito descansado a atirarem rebuçados aos porcos... "Ah e tal... O percurso ainda continuava, mas como somos vossos amigos, vamos directos para os carros..." Fiquei com vontade de responder, mas depois senti que se abrisse a boca, esgotava as poucas forças que ainda me restavam e acabava por bater com o cromado no asfalto...

Chegamos ao carro por volta das 12h40m, com 40kms nas pernas, 1200mts e de acumulado e com o termómetro a registar quase 20º...

Claro está que depois de chegados ao carro, ninguém se lembra das subidas... Agora só no próximo domingo para partir a cabeça ao JT... :-)

Em resumo, que grande volta... É verdade que sofremos para vencer estas subidas, mas o resultado é compensador...

JT, espero que continues em grande forma e a surpreender-nos semana apos semana com estas voltinhas espetaculares...

Um abraço,

Ass: Trinca-Tudo
Luis Brites (PCCRB)

07 fevereiro 2011

Malta, estas são as fotos do Zé.
































Todos os créditos para o Trinca Ampolas ( ou deveria dizer, Trinca, onde estão as ampolas? )

Abraço