06 novembro 2012

Que volta tão bonita ou ... Ter mais olhos que barriga

Há muito tempo que não acompanhava os Trincas numa volta. A bicicleta está num estado lastimável ou como diz o mecânico da oficina - "está morto". Mas enquanto a cena actual for a do Gaspar não há nada a fazer. Tem de aguentar e muito.

Mas desta vez, mal apareceu o mail do Hugo, não podia deixar de dizer logo presente. Há tanto tempo que se fala desta volta, há tanto tempo que o Hugo tinha vontade de nos receber, que se havia razão maior para retomar as voltas esta afigurou-se logo como sendo uma razão de peso.

A volta criou muitas expectativas. Todas cumpridas. No meu caso aplica-se a máxima do título. Eu achei que podia ir mais longe do que fui mas, para variar, passei mais um dia sozinho.

Se nos primeiros troços aquilo era sempre a rolar, mais ou menos a direito, e se por causa de uma avaria mecânica numa das Scotts do grupo ainda disfarcei o meu andamento dando toda uma colina de avanço ao grupo, logo que apareceu a serra pela frente caiu-se-me tudo aos pés. Aquilo era uma parede gigantesca, onde o granito dominava e a unica estrada visivel subia por ali acima com um grau de inclinação puxadote.

A subida foi penosa. Ver todos à minha frente, espaçados, num estradão aos Ss, a ganharem terreno e eu a sentir-me só, abandonado cá em baixo, foi uma sensação ... típica e comum. Nada de novo.  Já estava à espera e comecei mentalmente a preparar-me para cortar caminho. 
Pelo meio encontrei uma brigada da Polícia Florestal que amavelmente me recusaram a boleia para cima. Tinham-me poupado à "vergonha" de chegar mais de 20minutos depois dos outros, que já desesperavam por se porem a andar.
A partir daí separamo-nos. Eu marquei um ponto de encontro no GPS e cada um foi à sua vida. Quer dizer eles foram continuar a volta e eu desenrasquei-me a chegar até ao ponto marcado.
E foi uma volta fantástica, subi até ao topo da Serra, parei numa aldeia - Coelheira - onde levei um enxerto de ar livre, tantos e tantos kms à minha volta sem gente de matos, pedras e rebanhos. Passei duas horas nisto em que me deitava e descansava, ou em que pegava na bicicleta e para aquecer dava umas voltas pelas redondezas, para ver uns carvalhais cheios de cogumelos, ou umas lagoas ou apenas e só os rebanhos de cabras que se espalhavam nas redondezas,  sem que os outros chegassem (mais olhos que barriga, lembram-se) e fiz-me ao caminho de regresso.
E que caminho. A minha ideia era ir por estrada, mas a terra foi mais forte e meti-me por uns trilhos que subiam (sim ainda tinha forças) uma cumeada e tinham um trilho desenhado nos xistos (deve ser giro ver onde aquilo muda. Num lado são granitos e quando damos por ela estamos a andar em cima de xistos) na critas da cumeada. Os trilhos estavam marcados com mareolas, algumas de grande dimensão. Muito interessantes.

Mais interessante ainda é quando termina a cumeada.
Parece que a montanha acaba de repente e só se vê uma estrada (felizmente alcatroada) que desce vertiginosamente de uma forma doida por ali abaixo. Foi um prazer.
Meti-me na bicicleta a bombar na descida, sempre a pedalar e a lembrar-me do mecânico a falar dos travões e da transmissão  - "está morto" dizia ele. Pois.
Saí de estrada duas vezes, nas curvas à esquerda onde a escapatória era razoável, mas de facto aquilo é para doidos. Talvez a malta das Trek, Traks e Tralhos tenha mais facilidade nas descidas, mas a minha velhinha Specialized portou-se muito bem. A idade fica-lhe bem, é uma durona.
 

Com isto tudo cheguei a S. Pedro do Sul cedo e com luz e tive tempo para recuperar forças e energia  numa bela tasca, onde uma bifana e uma imperial me reanimaram das desgraças da manhã.
O resto da malta chegou já caía a noite e pelo que vi estavam arrumados. Bem feito. Quer dizer a bem ver arrumado estava eu, porque a maioria chegou a resmungar com a dureza da volta, mas todos vinham com os olhos arregalados de tanto ar livre.

Mas o ponto alto da noite, aquilo que de facto nos fez a todos participar na volta, mas que ninguém quer assumir, ainda estava por aparecer.
Já em Albergaria esperava-nos um belo repasto de leitão assado, fantástico e delicioso, soberbo que depois de trinchado voou literalmente da mesa. Foi um ver se te avias a repor a energia e os níveis de espumante no sangue. Um jantar superdivertido e animado em grande parte devido aos Almondas que se entretiveram em questiúnculas muito peculiares.

E ainda acreditam que os porcos não voam. Estes voaram e de que maneira.


PS. Um agradecimento muito especial ao Hugo que se esmerou de uma forma fantástica para nos proporcionar um fim-de-semana em cheio (só tenho um reparo, devias ter acordado com a Polícia Florestal o transporte naquela subidinha). 

PPS. Um obrigado também ao pessoal dos Almondas, sobretudo ao amigo que deixou as pastilhas dos travões avariarem e que me deu algum tempo de descanso do sufoco que é ver-vos a pedalar.

PPPS. Obrigado pela paciência por esperarem por mim :)  Garanto-vos que há-de tornar a acontecer!





Os Bastidores da Serra da Freita

Tudo começou na sexta–feira com a partida de Lisboa às 18h rumo à Albergaria onde jantámos e dormimos em casa do Hugo:
Quem não tem jeito para andar de bike ao menos .... 

  Parabens Tania, os teus dois bolos estavam excelentes!

 A fase dos digestivos, na presença dos dois Almondas (Roque e João Paulo)

O pequeno almoço em Albergaria antes da partida para S. Pedro do Sul


Antes de pedalar ainda deu para visitar as termas de S.Pedro do Sul



Todos os dados da excelente volta organizada pelo Hugo, podem ser vistos: http://connect.garmin.com/activity/237843034#

03 novembro 2012

Assalto à Freita

Finalmente!
Finalmente convenci, não só, os Trinca Pedras mas também os Almondas a ir até Albergaria a Velha!
Finalmente fomos à Serra da Freita!
Finalmente dei uma coça ao pessoal!
Finalmente fizemos mais de 80km e 2300m de acumulado num só dia!



A ida até à Serra da Freita já tinha sido adiada por mais de uma vez, sempre por razões ligadas a estas andanças do BTT. Desta vez ninguém queria pensar nisso e, sei, que no íntimo de alguns o receio de assumir a ida era grande.
O trajeto foi preparado com base no Geo Raid 2010, a maratona de Arouca e algumas dicas do BTTAlberga, ficou um mimo de 70km e 2200m de acumulado.

Embarcaram neste desafio os Trinca Férias, Pirex, Tuga, Gadget, a Tânia,  Boss, Ramos,  PLNauta, Rui, Alegria, Tudo  também chamado Cão Reporter que convenceu o Cão Pédia, Guia e Etiope.


Montamos base de acampamento em Albergaria a Velha na sexta feira e fizemos reserva por duas noites. De manhã reunimos tropas em São Pedro do Sul, local escolhido para a partida desta aventura. A volta começou com os atrasos da praxe, bicicletas que não travavam, outras que não andavam, pneus vazios ou muito cheios, gps que indicam  para a direita enquanto outros indicam para a esquerda.
Tudo se resolveu em uma hora e meia e, para castigo, trepamos em alcatrão por 2km até entrarmos na volta propriamente dita.

Rolamos em direção a Lourosa em estradão e depois em singletrack por entre castanheiros, sem dúvida o trilho mais bonito da volta. O sol brilhava e a paisagem deslumbrava, o pessoal estava entusiasmado, Fomos devorando km, visitando aldeias típicas de serra até ao sopé da maior dificuldade do dia, uma subida de cerca de 4km em plena Serra Arada/Pisão. A subida era dura, pedra e mais pedra, curva que escondia outra curva e assim adiava a chegada ao topo. Com mais oi menos dificuldade todos atingiram o topo e puderam desfrutar de uma vista deslumbrante das serras que ladeiam São Pedro do Sul, Vouzela e Aveiro.

A subida fez moça no ânimo do grupo cujo objetivo principal era chegar à Frecha, para isso faltavam ainda cerca de 20km sempre acima dos 1000m de altitude. Metade desta distância foi feita em trilhos de pedra num sobe e desce até à belíssima aldeia de Manhouce, umas das mais características da região. Foi o local ideal para um abastecimento de líquido.








Restabelecidos os líquidos, foi altura de trilhar por um caminho pedestre de pedra com 1.5km de extensão. A Serra é fria e dura e torna as gentes destas terras mais fortes e resistentes que os demais. Embebidos desse espirito e anestesiados pelo cheiro da casta “morangueiro” fomos desfrutando caminho pela serra.




Já andávamos á cerca de 5horas e havíamos criado uma cumplicidade estranha com a Serra. O vento arrefecia-nos o corpo e também a alma, quem poderia extrair algo desta terra? Uma imensidão estendia-se á nossa volta, serra e mais serra, pedras e mais pedra, vegetação nem vê-la mas, a vontade de permanecer ali era imensa. Seria toda esta atmosfera que conferia a esta aventura o título de épica?!






Antes de entrarmos em pleno Arouca GeoPark atravessamos os portões que circundam a aldeia comunitária do Gestoso, um exemplo de como sobreviver nesta zona. Os campos agrícolas são viçosos e o gado confunde-se com a paisagem!





As pernas clamavam por descanso e o estômago alimento, altura ideal…Frecha da Mizarela! Um acidente paisagístico espetacular. Uma queda de água com cerca de 60m de altura coloca este ponto do país no topo da Europa.


Eram 15h e restavam cerca de 3,5h de sol. Decidimos rolar o mais rápido possível até chegarmos  à  Coelheira, isso implicava rolar em alcatrão. Foi isso que fizemos assim que cruzamos a aldeia da Albergaria da Serra. Antes ainda fomos brindados por belos espelhos de água que pintam esse belo planalto, depois, rolamos por uma cumeada junto às eólicas e podemos ver um enorme espelho ao fundo, o mar da Barra de Aveiro!




Com o olhar nesse quadro de rara beleza descemos até Candal sem perceber o que nos esperava. Já com 55km nas pernas teríamos de “penar” durante 5.5km para trepar dos 700m até ao 1050m e atingir a Coelheira, era a última subida do dia mas a vontade dividia o grupo.

Chegados ao topo nova reunião de grupo sobre o caminho a seguir, com o olhar posto entre uma pequena subida e uma reta facilmente se chegou a uma decisão! Foi sem duvida a decisão acertada pois era a que mais próximo seguia do track original. Seriam 15km de descida até S. Pedro do Sul.




Os primeiros 10 km foram alucinantes, uma inclinação brutal, curva contra curva, paisagem deslumbrante sobre a Serra de São Macário, o corpo a gelar pela velocidade atingida e a adrenalina a subir mesmo antes de a noite cair. Nada melhor para terminar uma jornada épica do que uma descida a condizer.



Depois de tomarmos banho nos bombeiros da vila regressamos ao acampamento  onde um repasto de leitão assado à moda da terra nos ajudaria a recuperar animo e forças!



Como anfitrião regozijo-me por ninguém se ter magoado na volta e por ter proporcionado uma aventura de respeito.

A região de Aveiro tem muitos trilhos para percorrer e, o quartel general, está sempre montado!

Até lá… Boas Trincadelas!