03 novembro 2007

O dia da bravura

Lagos é terra de descobridores e aventureiros, homens valentes de sangue frio que, não se contentando com o seu canto, partiram em busca de novos mundos. Muitos sonharam com esses mundos em tempos de outrora, sem satélites, gps, sistemas de comunicação ou qualquer outro tipo de aparelhagem. Nos nossos dias esses instrumentos são essenciais em qualquer aventura mas, naqueles tempos, um homem seguia-se pelos conhecimentos da física, astronomia e nas experiências partilhadas. Eram tempos em que só os bravos logravam vencer.
Embebido do espírito local programei a saída para o dia seguinte, a Barragem da Bravura, local de paragem obrigatória nos piqueniques do 1º de Maio e da voltinha de dia de Ano Novo das gentes locais. Pedi algumas referências ao Manel da Bicicletas, figura carismática do ciclismo Lacobrigense, e fiz o download do mapa via Google Earth para auxiliar à descrição vaga do percurso a fazer. Como trincador que sou, queria fazer o máximo de km por terras mas, o Manel das Bicicletas e os outros frequentadores da sua loja fazem estrada, sabia de antemão que teria de atalhar muito caminho.

A partida foi às 9h30 da manhã, o sol já ia alto e convidava à manga curta, equipado a rigor, camelback cheio e olhos postos no destino lá fui eu. Segui pelos caminhos que já conhecia até encontrar os primeiros trilhos na direcção desejada, ao fim de 3 km já andava ao ziguezagues, para cima e para baixo em busca de uma saída que teimava em não aparecer, estradões que invariavelmente esbarravam numa quinta com um animal de quatro patas a avisar que estava na direcção errada.Neste tipo de descoberta não podemos seleccionar muito os caminhos a percorrer, por isso, temos que trincar tudo o que nos aparece à frente, calçada, estradão, alcatrão, propriedade privada sempre na direcção desejada.
Após muitos atalhos subidas e descidas e já com 12km feitos cheguei ao Colégio, estava um pouco desanimado, aparentemente teria de seguir por alcatrão o resto do trajecto até à barragem e pior que isso, uma longa subida com cerca de 3km esperava por mim. Ao chegar ao fim daquela valente subida ainda me sentia fresco e com forças para continuar, diante dos meus olhos um sem número de trilhos abriram-me o apetite por comer pó, só tinha de escolher um.
Mais uns km e de novo o alcatrão, mais uma subida daqueles, na minha mente Diogo Cão e Bartolomeu Dias sussurravam: “isso não é nada, fizemos coisas muito mais difíceis” – era um facto e não o podia ignorar, pedalei com vivacidade, trinquei aquele alcatrão com fulgor, não iria fraquejar, mais do que isso, iria subir com a garra dos nossos antepassados, estava tão perto do meu destino nada nem ninguém me demoveria de tal!
A Estalagem da Bravura assinalava o prémio de montanha de terceira categoria, andei mais 2.5km e da barragem nada!! Voltei para trás para pedir informações, o dono da estalagem informou-me devidamente “a barragem é a precisamente 2.8km daqui”, não queira acreditar, onde está o gps? Onde estão os mapas detalhados? Como é possivel não ter visto a barragem estava a 300m e voltei para trás! Sai de manhã para ver a barragem por isso, nada a fazer toca a voltar para trás. Percorridos os 2.8km conforme indicado e depois de fazer uma curva à direita deparei-me com aquele bonito cenário. Como diz o meu sogro, tudo o que tem água é bonito, e para que não haja dúvida tirei uma foto.














Dei volta ao cavalo e segui as indicações do estalajadeiro, depois de descer vertiginosamente pelo alcatrão segui um trilho paralelo ao um regadio que me iria levar até à ribeira de Odiáxere. Passei por montes rurais que nos mostram um Algarve quase desconhecido, longe das praias e do turismo de massas. Sítios que mostram que nem sempre a vida sorriu aos seus habitantes, que nos tempos mais difíceis tiveram de abandonar as suas terras em busca de outras actividades mais lucrativas, mas há também aqueles que sobreviveram a esses tempos e que mimam os seu campos, como que a agradecer o que deles já colheram.













De volta a Lagos serpenteei pelas suas ruas estreitas perante o olhar indiscreto dos transeuntes que teimavam em reparar no meu sorriso, era o sorriso de um bravo!

A trincadela teve um total de 48km feito em 2h53m. Cerca de 15km foram em alcatrão, foi inevitável, isto de invadir propriedade alheia, correr cães ao pontapé e fazer subidas que não levam a lado nenhum é engraçado mas também farta.

Boa trincadelas....

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois eu fui para Trás-os-Montes e não levei a bicicleta. Passei o tempo todo a fazer porra nenhuma.

Que inveja.
Grande estupido.

João

Brites disse...

Pois... Eu ontem fui andar... em Monsanto... Muito fixe.. LOL!
Que inveja... Abraço!
P.S: E que tal a máquina nova?

Férias disse...

A bike têm-se portado bem, é agil nos trilhos técnicos e sinuosos, confortavél nas longas distâncias. A suspensão é cinco estrelas, muito eficiente e bloquada conjuntamente com o amortecedor devora subidas e alcatrão com relativo à vontade.
A máquina está com vontade de devorar a zona da Arrábida...

Brites disse...

Arrábida? Quando kiseres... LOL! Dia 18 não posso, mas no fds seguinte... Dia 25 Nov?

Pirex disse...

Boas, Eu também quero ir á Arrábida, 25 Nov?

Cesar disse...

Did you record the track/route with your gps?