No topo da Serra Fria, o João T. e eu esperávamos pelos outros, com o vento a soprar e o frio a fazer sentir-se. Algum tempo depois, surgiram os restantes heróis, também eles satisfeitos pelo obstáculo que acabavam de vencer.
Com o horário a apertar, e sempre com o Brites a impor o ritmo, rapidamente se iniciou uma longa, mas rápida descida, até a uma pequena aldeia, onde quase não se viu vivalma. Não fosse um velho conversador, com um sotaque bastante português, diga-se, a passagem por aquela aldeia não teria história.
A partir daqui foi a pedalar num ritmo mais elevado, porque havia muitos quilómetros a percorrer e era importante que este grupo se reagrupasse com os restantes, que estavam também em terras espanholas…algures. O Paulo, uma espécie de terceiro elemento nesta aventura, lá ia surgindo em pontos estratégicos, como uma espécie de aparição.
Finalmente, todos os “trincas” e “almondas” se reuniram, por azar (ou talvez não), junto a um café, o que fez perder mais algum tempo, para desespero do Brites. Mas, o tempo de espera, sempre deu para partilharmos as experiências da Serra Fria com os restantes elementos que não tinham vindo connosco nessa aventura.
Estômagos aconchegados e conversas em dia, o próximo destino é Valencia de Alcántara, uma pequena cidade raiana da Extremadura, que fica sensivelmente a 15 quilómetros da fronteira. Aqui, o grupo entra num ritmo elevado, dá uma volta à cidade, para iniciar uma das fases mais bonitas de toda a volta.
De Valencia de Alcántara até à fronteira a paisagem é simplesmente deslumbrante, muito variada e recheada de pontos de interesse.
O ritmo seguia elevado e as forças começavam a faltar, porque ao contrário da balela que me tinham dito no início da volta, há muito que já me tinha apercebido que de plano esta zona não tinha nada.
O subir e descer constante, já depois de muito acumulado nas pernas, começava a fazer estragos. As pequenas subidas já se tornavam penosas e as muitas horas em cima da bicicleta já começavam a saturar.
Porém, à medida que a tarde se ia prolongando, a luz ficava lindíssima e a paisagem ganhava contornos misteriosos, numa relação muito íntima entre nós e a natureza.
A boa disposição reinava e enquanto se pedalava, também as conversas entre os vários elementos do grupo iam fluindo. Neste ambiente de tranquilidade eu, o Brites, juntamente com outros “almondas”, fomos ficando para trás. Ao iniciarmos uma descida já tínhamos perdido de vista os restantes elementos do grupo, o que nos colocou um problema quando chegámos a uma bifurcação.
Ir pela esquerda ou pela direita? Era a pergunta que se colocava, mas ninguém conseguiu contactar os outros que lá iam à frente. Por isso, tivemos que confiar no nosso instinto e depois de termos analisado os rastos dos pneus (estilo CSI), lá optámos seguir pela direita. Mas, quando ainda estávamos hesitantes, até porque àquela hora, já não dava muito jeito enganar-nos, eis que aparece o Paulo, com o seu mapa e o Garmin, a confirmar que íamos pelo caminho certo.
Mais confiantes, lá continuámos a descida até reunirmo-nos com os restantes. A partir daí foi a rolar até chegarmos à linha férrea que nos iria conduzir directamente à fronteira, mas não sem antes haver um furo, o que obrigou a uma paragem forçada para um lanche, bem à beirinha dos carris. Como alguém disse: “com tantos locais bonitos para termos parado para um lanche, logo tínhamos que lanchar neste sítio”. Mas, resolvido o furo, lá seguimos pela linha férrea, para fazer a travessia para Portugal sobre o Rio Sever pela ponte ferroviária.
Deixada a linha férrea, e já a rolar em Portugal, estamos num local muito bonito, passando por uma casa, a qual é servida por uma estrada sem saída. Um cantinho de Portugal, com muito verde, árvores e sem ninguém, mas o deslumbre com a envolvente rapidamente se esvaneceu, quando encontrámos pela frente uma subida que naquela altura do campeonato foi mortífera.
Chegados ao topo, numa estrada de alcatrão, lá continuámos a rolar, e no que me diz respeito, estava mais motivado, a pedalar bem, já a pensar no final e no jantar que nos esperava. No entanto, neste passeio, aprendi uma lição: o que pode parecer fácil, é de esperar que não o seja.
E assim aconteceu. Quando já todos nos preparávamos para fazer um atalho por alcatrão até Santo António das Areias, eis que o Rui decide ser um purista do Garmin e optar (pela esquerda) pelo track original. Resultado: mais uns quilómetros a pedalar e, para muitos, já de sofrimento.
Aberta a Caixa de Pandora, também o João T. decidiu levar a sua interpretação do track ao limite e lá nos meteu por mais uns montes, já com a noite a cair.
Quase derreados, chegámos a uma estrada de alcatrão, junto de um povoado, onde parámos por uns minutos para ver qual o caminho para o nosso destino.
Ao fundo, vi duas pessoas, a quem fui perguntar qual o caminho mais directo para Santo António das Areias. Dadas as indicações pelos simpáticos autóctones, seguimos de imediato até chegarmos à placa a dizer Santo António das Areias.
Quando entrámos naquela localidade, mais um momento de pura religiosidade e de devoção ao Garmin por parte do João T. e de alguns (poucos) crentes, que se meteram por um atalho íngreme, esburacado, escuro e sabe-se lá mais o quê. Curioso, que nesta fase do campeonato já o Rui tinha perdido a sua fé nas virtudes do track dado pelo Garmin e, juntamente com os restantes, lá foi pelo alcatrão, enfrentando ainda uma subida dura pela frente. Mas, apesar dos diferentes credos religiosos, o Paraíso surgiu para todos em forma de banho, jantar e cama.
3 comentários:
Viva o Garmin, aquelas máquinas demoníacas.
Alex, grande volta, grande reportagem e grande parceria naquela subida - ficou para a história, pelo menos para a nossa.
Vejam lá mas é se arranjam maneira de eu não ficar para trás ... é que o garmin não alumia o caminho.
Já estou em estágio para as minas de S. Domingos.
Logo que haja um track façam o favor de o divulgar para eu analisar o caminho.
pl
Sabem uma coisa?? consegui meter curvas de nivel no meu telele eh eh eh. isto tá cada vez melhor :)
Alex, tu tb tens veia para a escrita.
Paulo, por acaso andas a pedalar á noite, é?
Abraço.
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