21 setembro 2009

A história do Xurez contada pelo fim do pelotão ….

Pois é … a malta dos Trinca lá se meteu em mais uma aventura rumo à terra de “nuestros hermanos”, passando do “nosso” Gerês … para o Xurez “deles” …. embuídos de um espírito de conquista, não de Espanha .... mas dos nossos limites, da natureza, de espírito de grupo, pelos nossos prazeres e pelo nosso bem estar! …

Bem … opto pelo relato da cauda do pelotão pois outros Trincas já se encarregaram do relato “da frente” e assim ouvimos todas as “versões” da estória .. o que as torna mais interessantes, mais ricas e mais verdadeiras!!!! Pois é … é que isto não é só beleza e paisagens deslumbrantes, BTTistas atléticos e máquinas voadoras …. existem aqueles que têm que ser corajosos ao ponto de saberem que terão de fazer quilómetros com a bike à mão …., que quando chegam ao pé dos outros, com o “ego em alta” e sentimento de vitória – tentando “saborear” ao máximo os seus momentos de glória - ouvem logo em tom “corrosivo” e ameaçador: “vamos embora!” ou “tamos aqui há séculos” … enfim …. somos uns valentes!

Aqui vai .. saímos dos nossos aposentos - com “n” estrelas (no céu), assoalhadas arejadas, com vista de serra, alimentação diversificada e requintada (um abraço ao nosso “chef” Pirex) - com uma humidade a “enregelar os ossos”, mas com o ânimo em alta e o nervoso miudinho de quem vai fazer algo que se vai orgulhar … primeiros kms a rolar todos juntos, ligeiramente a descer pela Mata de Albergaria, rodeados de pinheiros, abetos e carvalhos ….. passando por troços da antiga via romana “Bracara Augusta … Agostina qq coisa” … montados nos nossos “cavalos luzidios ainda frescos”. Chegados à Portela do Homem e à fronteira foi hora das fotos da praxe e começaram a surgir os avisos “vamos ter que subir isto e aquilo”, “podemos fazer esta volta que chegamos aqui, mas é só para a malta que se aguentar” … fomos andando mais uns kms e percebendo que já há muitos companheiros BTTistas por estas bandas e a percorrer estes trilhos … cruzámo-nos com alguns grupos, uns já montados nas bikes, outros a “mostrar” as bikes …- há malta em que a bike é a extensão do “xxxx” …. condição humana!?!

… começámos a subir já em terras de “Xurez”, estradões ao meu gosto, andando razoavelmente …. mas a deixarmos de ver nas rectas mais curtas os “acelerados” da frente, íamos na conversa e usufruindo da paisagem … quando a máquina do Brites nos deixou “irremediavelmente” na cauda do pelotão …. é o preço da tecnologia ……Ficámos partidos a meio (Alex, Bruno, João T, Hugo, Brites e eu cá atrás e a malta dos TPO já iam para a frente (aqueles gajos têm de deixar de treinar a meio da semana!!!Pode ser que agora com a aproximação dos dias mais frios). Problema parcialmente resolvido (mais à frente, voltaria a chatear) e fizemos uns kms dos que me deram (e acredito que ao resto da malta da cauda tb) mais prazer … estradões, paisagens deslumbrantes dos picos do Xurez, a andarmos agradavelmente na conversa em direcção ao trilho “sempre a descer durante seis kms” … que era um “espectáculo!” . Quando o avistámos cá de cima e vimos malta lá em baixo o Hugo disse “Tiago, eu vim de propósito de Lisboa para fazer aquilo!!!” … foi a piada do dia … mal ele sabia ….

Antes de entrarmos no célebre trilho “Minas das sombras” ainda parámos na fonte .. julgando que estavam lá os TPO … mas não, os rapazes estavam cheios de vontade!! Entrámos no trilho com o Alex e o Brites a avisarem que era duro e às vezes perigoso, para termos atenção. Os menos afoitos nestas coisas dos trilhos e mais conscientes quanto ao seu cabedal deram lugar aos “pepe rápidos” … assim o João T, eu e o Bruno encerrávamos o grupo …. nem 30 metros … primeiro “aviso” do trilho … Hugo “voa” entre as pedras …. felizmente com poucos danos …. E durante uns bons dois quilómetros aquilo de trilho tinha pouco … devia chamar-se “puzzle de pedras” ou “de pedra em pedra” …..foi mais o tempo com a bike à mão que de cima dela … passados mais uns metros … segundo “aviso” do trilho: segunda queda do Hugo! Esta com direito a risada …. (ver post do Brites), mais umas centenas de metros e nós continuávamos com a bike de um lado … e a ravina do outro! O Bruno, cada vez em maiores dificuldades, a ficar mais atrasado … num local de espera do grupo (O Alex já tinha fugido entre as pedras! Vejam lá que no fim soubemos que não saiu da bike no trilho todo! Ou tem asas … ou airbags na bike … ) confessava que “não gostava de alturas!?!?” É um tipo corajoso!

Lá chegámos ao final da primeira parte do trilho, já em cima da bike no último km, encontrando a malta dos TPO a descansar, já depois de alimentados e com o João quase a dormir … e lá veio a célebre frase …..”vamos embora?” ….sem comentários!!

Começámos a segunda parte do trilho animados por ser a descer e a grande velocidade em cima da bike (para variar!), pois o piso já o permitia, quando o Hugo (sim .. o Hugo voltou a cair) e desta vez o Pirex foi duplamente solidário. Mais uma vez, sem grandes mazelas físicas, mas a bike do Hugo começou a queixar-se e a maneta das mudanças deixou de funcionar a 100%.

Terminámos o trilho na aldeia fantasma de Lobios já agrupados. O trilho devia ser caracterizado por “seis kms sempre a descer na ravina, metade dos quais com a bike ao lado”, mas a malta que já conhecia omitiu a segunda parte da frase …. para não desanimar! Não … valeu, especialmente pela paisagem deslumbrante!

Agora estávamos junto ao Rio Caldo, no ponto mais abaixo do nosso percurso. Teríamos que subir 800 metros! Depois de acalorosa discussão sobre qual o percurso a seguir: optámos pelo “melhor” …. imaginem como seria o outro? …. metemo-nos a caminho .. os primeiros metros fizeram-se bem, em estradões com inclinação suave, em cima das bikes, mas a começarem a verificar-se as “mossas no grupo” … e cá ficaram os do costume para trás … curva após curva, tem uma certa graça ver o colorido das camisolas lá em cima, vendo quem vai melhor … aquele é o Alex, o Brites, ali vai o Pirex …. o pior é que parece que a nossa bike não sai do mesmo sítio e na curva seguinte já vimos menos um ….é um pouco só …. porreiro é quando ganhamos o nosso ritmo e vamos (pelo menos) com um companheiro .. foi o que me aconteceu, sensivelmente a meio, com o João da Galega e lá fomos os dois, curva após curva …. olhando para trás víamos o Hugo e o Bruno em dificuldades.

Chegámos ao fim …pensei ingenuamente … quando após uma curva vimos os adiantados à espera …. E foram aqueles instantes de glória … Consegui! Cinco estrelas!

… estávamos apenas a meio da subida.

Lá seguimos, com o Hugo de tal forma moído das quedas e da dureza do percurso, que chegou a dizer “Vou chamar o meu carro de apoio …. E desço e apanha-me. Viste porque o trouxe?” e olhem que ele não é homem para desistir facilmente! Lá o convenci e trouxe-o a “reboque”, que é como quem diz a tentar convencê-lo que estava quase no fim, mas os dois – em grande parte do percurso – com a bike na mão, juntámo-nos ao Bruno e assim fomos uns kms. Foi a parte mais dura – física e psicologicamente – do percurso. A paisagem era árida, sem grande interesse, os kms (julgo que cerca de 40) já pesavam nas pernas e a bike … na mão! Como dizia o Bruno “parece que nascem montanhas”!

A certa altura consegui encontrar o meu ritmo e pôr-me em cima da bike, vendo os Joões ao fundo nas rectas e tendo-os como referência.

Finalmente, chegámos ao fim da subida de rastos. A decisão foi unânime: agora descer e alcatrão até à Portela do Homem. Até aos mais bem preparados fisicamente, os kms e a dureza do percurso já pesavam.

Descemos agrupados e chegámos ao alcatrão, numa descida com piso duro e irregular, ladeada por mata densa, em que se fazia sentir o frio, mas mais relaxados fisicamente. Apenas o João T. se queixava do pulso, dizendo que teria que “ocultar esta terapia ao médico”.

Ao começarmos a subir para a Portela do Homem, juntámo-nos um grupo cá atrás – Bruno, Hugo, João T. e eu – e fizemos estes kms a um ritmo porreiro, observando a natureza envolvente e desfrutando do momento. A Mata de Albergaria é fantástica e, por esta altura do dia, o sol batia na barragem de Vilarinho das Furnas e a paisagem estava deslumbrante.

A malta reagrupou para entrarmos no Parque e para a foto da praxe. Valeu a Pena!

… como bem, lembrou o Hugo … aqui há uns anos … e não tantos como isso, para fazermos este percurso tínhamos que mostrar passaporte a meio …. e dado o nosso “bom ar” – somos uns rapazes jeitosos! – lá nos deixariam passar, relatando ao que íamos e onde íamos ….. e, vejam lá, ainda há quem seja contra a União Europeia …

Tiago

4 comentários:

Pirex disse...

grande Tiago, mais um grande relato. Só tenho uma dúvida: Nós não somos os trinca-pedras?????? então não é suposto saber andar no meio delas? Sejam elas de que tipo forem? ah ah ah

Abraço

Brites disse...

Bem Tiago... O que eu me ri para aqui sozinho enquanto lia o teu relato...

Espetacular...

De facto, existem várias visões e vários pontos de vista possiveis para quem entra numa aventura destas.. E é de facto interessante vermos o ponto de vista de cada um...

Foi duro... muito duro... para todos... Para os mais bem preparados e para os menos preparados... Mas penso que todos ficamos com o sentimento de desafio ultrapassado...

É assim que nos apercebemos da nossa evolução enquanto BeTeTistas...

Como dizia o João, o BTT não é apenas bicicletas e pedalar... a componente da camaradagem e dos momentos que passamos juntos é seguramente a melhor parte...

No fundo, as bicicletas são apenas uma desculpa para convivermos... e nos conhecermos um pouco melhor...

Um abraço e espero que estejas melhor...

Ass: Brites

José Matos disse...

Grande Tiago, tá aqui um relato á maneira.Axo que estamos no bom caminho.

Unknown disse...

Tiago, esta reportagem está digna de uma Grande Reportagem.

Maravilha.