19 janeiro 2009

Lizandro - A Volta Errada no Dia Certo

Meus amigos, sinto-me realizado. É certo que levei uma tareia por chegar a casa mais sujo que os porcos da Quinta Pedagógica e duas horas depois do acordado, mas a volta foi ... fantástica.

Chego à Ericeira às 8h da manhã e no café do costume atrevo-me a entrar e a pedir um pequeno almoço que me dê para aguentar uma manhã de BTT. Sou o único cliente e sou também olhado de alto a baixo. Lá fora está um nevoeiro cerrado e começa a chover com mais intensidade.
Não o dizem, mas no fundo, chamam-me e acham-me maluco. Deixá-los.
Saio com o bandulho cheio, satisfeito por ter saído da cama quentinha e aconchegante, e decido telefonar ao "organizador" do passeio. Era para lhe dizer que o tempo estava óptimo (não fossem eles desistir e voltar para trás), e ouço em resposta que já vai em Torres Vedras.
Ainda bem que é o "organizador". Conhecendo-o como conheço, este desviozinho deve fazer parte de um designio qualquer.
Resultado, chego ao Lizandro, monto o estaminé que desta vez até cadeirinha incluía e sento-me descontraidamente a equipar-me e a ver chegar o resto do pessoal, bem dispostos e animados como é usual. É um grupo fantástico.
Passado uma hora (há aqui algum exagero, confesso) chega o "organizador". Foi a minha vez de exercer pressão, em represália por eventos passados.
Por esta altura já todos tinhamos previsto uma manhã, digamos assim, húmida. Ninguém esperava (sim porque não acredito que o "organizador" o esperasse) o que nos estava reservado nos 8 km entre o 2 e o 10º.
Saímos animados em ritmo saudável e descontraído para aquecer e fomos seguindo as indicações do GPS que apontavam para a Sra do Ó. Tivemos aí uns pequenos precalços, com umas obras de regularização da ribeira, que face ao que se seguiu são isso mesmo, pequenos.

Depois, bom, depois foi a adrenalina total. O melhor BTL (Bicicleta Toda a Lama) que já fiz. O Track apontava o caminho ao longo do Cheleiros e durante uns bons kms, não surgiram dificuldades de maior, a não ser a lama, muita lama, escorregadia, que obrigava a uma condução cuidada. Em determinadas ocasiões era a bicicleta que escolhia o melhor caminho, em outras era a perícia que resolvia.

A coisa começava a tomar ares de coisa tramada. O GPS marcava uma curva à esquerda e atravessamos o ribeiro numa ponte sólida e bem seca. Logo a seguir o GPS marcou uma curva à direita e atravessamos o ribeiro num vau com 40cm de altura de água, gelada e bem molhada. Malvado GPS, neste momento já todos desconfiávamos que era o GPS que mandava no “organizador” e não o contrário.
Estava possuído. A tecnologia tem destas coisas.
Alguns de nós aproveitaram para lavar as bicicletas que, coitadas, estavam enlameadas. Coitadinhas delas…

Mas o GPS tinha mais coisas preparadas. Apontou-nos um “caminho” e nós, obedientes e fiéis, seguimo-lo. Ao GPS não ao “organizador”. Pois eles agora eram um só, uma única entidade, cujo único objectivo era mostrar que havia ali um caminho.

E aí é que nós vimos o que é lama. LAMA.
Poças de LAMA, lagos de LAMA, lençóis de LAMA, LAMA de todas as cores, LAMA viscosa, LAMA aderente, LAMA fina, LAMA grossa, LAMA, LAMA, LAMA, LAMA… Foram cerca de 4 km a brincar na lama, em que, literalmente (não estou a brincar) tivemos de nos arrastar nos caminhos mais escorregadios onde já andei. Nem no sapal me enterrei tão fundo (pronto aqui estou a exagerar um bocadinho outra vez).

A minha única mensagem a quem não foi é que … não sabem o que perderam. Adorei, primeiro porque assim não ficava para trás por não ter forças. Ficava para trás porque estava preso na LAMA, eu e os outros, depois porque adoro chafurdar na lama (a sério, coisas de puto e de quando fazia atletismo/corta mato). É claro que as bicicletas não estavam a gostar do tratamento, mas tb que se lixe. Aguentem.
Também nós aguentamos, e bem.
Quando saímos dali e começamos a subir novamente, tivemos oportunidade de testar a tracção das bicicletas, mas o caminho foi depois um sossego, comparado com aqueles kms ao longo do rio.

Depois o “organizador” levou-nos a ver o mar Salgado (grande piada esta hein ;), e só vos posso dizer, que eu sei que ele está lá, mas o nevoeiro tornou-se tão intenso que nem o víamos. A úncia certeza que temos, é que estes trilhos feitos num dia claro e límpido até devem doer de tanta mar… Ficou-nos a consolação de chegarmos ao Lizandro através do trilho da falésia, um dos mais bonitos que conheço.
Felizmente o nevoeiro aí estava menos denso e deu para perceber onde estávamos, porque desde a Samarra até S. Julião não se via nada. A não ser o Hugo que é o único com faróis de nevoeiro atrás.
A bicicleta, essa, está a recuperar. O tratamento de lama fez-lhe bem à pintura ajuda a emagrecer (talvez perca uns kgs).
Grande volta ... grande dia.
Obrigado GPS ...

3 comentários:

Unknown disse...

Paulo, já tinha saudades das tuas crónicas.

Realmente foi uma grande volta. Não seria tão memorável se o tempo estivesse bom.

Pirex disse...

Concordo contigo JT. Com o tempo bom não seria assim. Mais uma vez me senti lixado por ficar na cama... Parabéns Paulo, também já tinha saudades dos teus textos.

Abraço

Pirex

Brites disse...

Bolas...

Com esta descrição do Paulo, quase que fico com pena de não me ter enchido de LAMA...

Chego quase a ficar arrependido de ter ido para Torres Novas e ter falhado uma manhã de pura adrenalina a navegar em mares de lama, com a bicicleta a queixar-se que as mudanças não entram... os sapatos de encaixe sem encaixarem nos pedais, o chiar dos travões de disco com areia nas pastilhas, o carbono todo cagado da lama, o pézinho molhado e o dedinho encarquilhado do frio... Enfim...

Porque será que quando lá andamos, estamos todos lixados e depois quando lemos a crónica, ficamos com vontade de lá voltar?

Porcaria de desporto que tinham de inventar...

Tou viciado nesta merda do BTT, BTL, seja lá o que for, desde que leve a minha Trek comigo...

João, temos de lá voltar um destes dias, mas por favor, escolhe um dia seco...

Abraço e boas pedaladas.

Ass: Trinca-Tudo