Foram 2 anos a ressacar voltinhas destas… estava na altura,
o corpo pedia e a cabeça implorava…
De manhã cedo fizemo-nos à estrada em direcção a St.º
António das Areias, Marvão, esperavam-nos 2 dias de BTT com dormida em terras
de nuestros hermanos.
Eram 11h15 quando começámos a pedalar, o sol estava tímido
mas aos poucos foi se fazendo aparecer. Esta volta é daquelas em que nos
questionamos logo ao início… “então mas descemos de carro para agora subir a
dar ao pedal???”… Pois é, ao fim de 1 ou 2 Km começámos logo a subir caminho a
Marvão e, para começar em grande, assim que entrámos na calçada medieval
deparámo-nos logo com um cãozarrão a bloquear-nos o caminho e a querer fazer o
gosto ao dente… Ainda nem 3 Km tínhamos e já estávamos fora da bicicleta a
usá-la como escudo… ui isto promete!!! Até que vem o senhor pastor dono do cão
e lá nos deixa passar, com a conversa de sempre “ele não faz mal”… “pois mas
tem uma boca grande!!”.
Subimos então até Marvão no topo da Serra do Sapoio, a 860m
de altitude, com visita ao Castelo, foi a paragem turística da volta.
Descemos por outra calçada medieval acompanhados das cores
do Outuno que contrastam com o verde dos campos, os castanheiros e carvalhos
soltam as suas folhas fazendo como que uma alcatifa melodiosa e, embrulhados
neste misto de cores e sons, surge-nos o rio Sever para compor a melodia.
Parte
do trilho foi feito ao lado deste rio que nasce na Serra de S. Mamede e nos
guia à pitoresca povoação rural de Portagem.
Dada a hora, decidimos almoçar aqui pois seria a última
povoação até chegarmos ao parque já em Espanha. Depois das fotos na ponte
romana, o cheiro do restaurante Zé Calha não nos foi indiferente e acabámos por
entrar.
Ao que o Nuno dizia, a parte complicada da volta já tinha
sido, que era subir a Marvão. Assim sendo, estava à vontade para o almoço,
comida regional e barrinhas liquidas de cereais, sobremesa, café e o amável
senhor ainda nos ofereceu uma ginja como digestivo, numa sala com uma bruta
salamandra ao centro, estão a imaginar o sacrifício que foi levantar o rabo da
cadeira para o sentar no selim…
Mal sabia eu o que me esperava, assim que o Nuno olha para o
GPS diz “olha afinal enganei-me… vamos subir a Serra Fria…” What?? Agora é que
dizes??, ou seja, até Espanha foi sempre a subir… Que estupidez! Levamos o
mínimo às costas para poupar no peso e agora comemos que nem lontras LOL não
sei qual a mochila mais pesada… se a de trás ou se a da frente…
Já no cimo da cumeada da Serra Fria o sol começava a
esconder-se, tínhamos meia hora de luz, foi altura de decidir e começar a
descer ate ao alcatrão e passar a fronteira. Passada a fronteira foi pedala até
ao Camping Águas Claras em La Borrega, a 3Km do trilho. Já sem sol e com o
fresco típico da região, valeu-nos o banho quente, o repasto e o repouso para
nos ajudar a recuperar energias. E as castanhas que apanhámos no caminho e
“assámos” no micro-ondas :D
Fizémos 37Km com 1320m de acumulado.
No dia seguinte saímos cedo, começámos a pedalar às 7h30,
ainda nem se via o sol. Fizemos os 3 Km até ao trilho e voltámos à volta..
Mesmo aqui ao lado e uma paisagem diferente da nossa, estradões de terra e
empedrados que nos guiam por entre quintas. A partir daqui foi melhor que uma
visita ao Badoca mas na Serra de SanPedro. As vacas, touros, ovelhas e cavalos
acompanharam-nos grande parte do caminho. Esta parte confesso que me
surpreendeu, o Nuno tinha dito que o lado espanhol não era tão interessante
mas, talvez pelo track escolhido, surpreendeu-nos bastante. Seguimos parte da
“Ruta Caminos del Água” que foi um mimo de singletracks técnicos.
A Serra de SanPedro representa o megalítico, possui um dos
conjuntos megalíticos mais importantes da Europa, passámos por alguns.
Da “Ruta Caminos del Água” passámos para a “Ruta Tapada del
Anta”, continuaram os estradões por quintas com refúgios no nada, pedalámos kms
sem ver vivalma.
Começámos a subir em propriedades reserva de caça onde fomos
presenteados pelo trote do gado ao nosso lado, aquelas toneladas a bater no
chão…, se bem que se percebe que estão apenas a fugir, aquele barulho
ensurdecedor que faz a terra tremer faz-nos pedalar com o desejo de sermos
invisíveis, principalmente quando param e nos fixam o olhar… faz lembrar o
outro, ele não fazem mal… “está bem mas têm cornos grandes!!”. Assustados
passam por nós veados a alta velocidade, nem deu para fotografar, que loucura!!
Saindo da propriedade começámos a descer até ao rio Server,
mais uma vez. Aqui eram os porcos pretos a banhar naquela água gelada. Estou a
apreciar aquela paisagem magnífica quando percebo que o Nuno apenas parou
porque o track continua do lado de lá do rio… Sério?? Mas não há volta nenhuma que isto
não aconteça?? Lá teve que ser… molhar o pezinho…
Continuámos a subir mas agora com 2 cubos de gelo… Chegámos
a Beirã, antiga estação ferroviária de Marvão, dói só de ver que está
desactivada…
Estávamos a chegar, quando pensava que seria apenas rolar
até st.º António das Areias entrámos num trilho bem catita para despedida,
talvez partes de caminhos romanos, presente para acabar em beleza.
Subimos até
St.º António e terminámos a volta, hoje com 51Km e 1120m de acumulado.
Foi um total de 88Km com 2340m de acumulado, se chuva, sem
avarias, sem furos e sem quedas, não podia ter corrido melhor.
Sublinho a responsabilidade do Nuno, só ele leva GPS, só ele
se sabe o caminho e decide, eu apenas pedalo atrás dele e tiro fotos :D adoro!
Boas pedaladas... já a pensar na próxima!!