11 abril 2016

Grande Rota do Vale do Côa

A aventura desta vez foi fazer a Grande Rota do Vale do Côa. O Rio Côa é dos poucos rios em Portugal que corre de sul para norte, nasce na Serra das Mesas a 1175m de altitude na freguesia de Fóios, concelho de Sabugal e atravessa os concelhos de Almeida, Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e Vila Nova de Foz Côa, acabando por desaguar no Rio Douro.
A preparação foi em Fóios, uma freguesia do concelho do Sabugal onde deixámos o carro. Eram 12h45 quando começámos a pedalar rumo à nascente do Rio Côa onde realmente começa a aventura, foram logo 6 km a subir para chegar ao início da aventura… foi para aquecer!! 







A boa foi que os mesmos 6 km que subimos começámos por descê-los, com a Serra da Gata à direita completamente branca mais parecia que estávamos nos Alpes. Interessante que é precisamente a estrada que marca a fronteira, do lado direito temos placas em espanhol do lado esquerdo em português.




Voltámos a passar em Fóios e começámos a subir Vale do Espinho. Apanhámos o primeiro ponto de água, prontamente aparece um senhor a dizer que temos que dar a volta por estrada senão molhamo-nos… “Faz parte, não se preocupe!” dizemos nós, passamos a água e entramos numa serra de pinheiros.  



Aqui perdemos algum tempo, o trilho estava completamente tapado com pinheiros cortados, ainda tentámos passar com as bikes às costas mas tornou-se impossível, tivemos que contornar por outro caminho até apanhar novamente o trilho onde fizemos a primeira paragem junto ao rio para carregar energias.






Continuámos caminho ao lado do rio com passagens de margem que iriam fazer parte dos nossos dias. Passamos por Quadrazais e entramos na Serra da Malcata, subimos, subimos… subimos… que nunca mais acabava, aqui foi mesmo só subir para voltar a descer, o objectivo é passar no posto de Vigia da Serra da Malcata, o Alto da Machoca a 1078m de altitude, que permite apreciar a vista magnífica sobre o Côa e o Sabugal.




Quando chegámos ao Sabugal já passavam das 18h, restava-nos uma hora de sol, acabámos por atalhar os últimos 11 km por estrada para chegar a Rapoula do Côa, onde terminava a primeira etapa. Terminámos com 65km e 1640m de acumulado.
O alojamento tinha sido articulado com a Junta de Freguesia de Rapoula do Côa com o Sr. Álvaro Santos, esperava-nos a D. Odete que nos guiou “à quinta”, ao Refúgio no Campo – Turismo Rural, uma verdadeira surpresa para quem estava à espera de dormir num saco de cama. Conhecemos a família da quinta, a D. Otília, o Sr. Norberto e o filho Tomás.
A D. Otília, sem nos esperar, rapidamente disponibilizou um quarto, fez-nos o jantar delicioso com tudo o que precisávamos para repor baterias para o próximo dia. Aconselho vivamente! Acolhimento familiar, condições espectaculares, muito bom gosto e excelente comida. Além de turismo rural a quinta é também pedagógica, com um lago biológico e animais para tratar.



 O pormenor do relógio do quarto... :D

No dia seguinte esperava-nos um pequeno-almoço de campeões para os 80 km que tínhamos pela frente. A D. Otília sugeriu que levássemos umas sandes para o caminho e umas queijadinhas feitas por ela, mal sabíamos que era o melhor que fazíamos. Com -3º, o Sr. Norberto reparou que eu tinha deixado as luvas em cima da bicicleta na rua… estavam congeladas! Trouxe-as para a lareira para as vestir quentinhas. A D. Otília ainda nos lavou a roupa do dia anterior e o Tomás, que também faz BTT, deu-nos umas luzes do que nos esperava. 
Antes de sair ainda fomos ver os animais :)







Com tanto mimo foi difícil vir embora, parecia que tínhamos ido visitar uns amigos... da próxima será com certeza pois proporcionaram-nos uma experiência tão agradável que com certeza queremos voltar para os ver. Obrigado por tudo D. Otília, Sr. Norberto e Tomás! Adorámos!
Pés nos pedais e lá fomos nós às 8h45. Depois de Rapoula do côa o trilho segue por terrenos agrícolas até Seixo do Côa, passando pelas Termas do Cró. 




Por estrada de “alcatrão rural” chegámos à Ponte de Sequeiros, do séc. XIII, em Badamalos. Dado o caudal do rio nesta altura do ano optámos por fazer a etapa oeste da GRVC.




Durante as próximas 4 ou 5 horas não passámos em nenhuma povoação nem vimos vivalma… Foi um sobe e desce no vale, do rio subíamos ao topo do vale, quando chegávamos lá acima voltámos a descer até ao rio… um zig zag de vistas espectaculares, entre a imensidão da serra e os recantos do rio. Algumas partes do trilho estavam quase fechados com árvores caídas do inverno rigoroso e silvas gigantes, de certo há algum tempo que ninguém faz esta etapa da rota, é também a mais recôndita. 












Acabámos a água e ficámos secos com tanto sobe e desce até encontrar uma povoação com um ponto de água, tão perto e tão longe, perto num contexto de quilometragem e longe no contexto da dificuldade de progressão e acesso a um bem essencial como a água, foi sem dúvida a parte mais selvagem que fizemos. Valeu-nos a sandes e a queijadinha da D. Otília ou não comíamos nada todo o dia a não ser barritas e amêndoas…
A etapa acabava em Quinta Nova, uma aldeia do concelho de Pinhel. O alojamento oferecido pela Junta de Freguesia não estava em condições, o Sr. Carlos Videira Presidente da Junta abriu-nos a porta de uma casinha que tem na aldeia para passarmos a noite. Sabíamos previamente que em Quinta Nova não havia sítio para comer e portanto, no caminho fizemos um desvio por Pinhel para nos abastecer, cada um levou um saco de compras e fizemos um belo repasto. Demos descanso às pernas depois de 78km a pedalar e 1990m de acumulado.

Mítico... :D

No dia seguinte saímos de Quinta Nova pelas 9h00. Uma verdadeira surpresa logo pela manhã, 5km a descer por entre vales até às entranhas do Côa, uma imensidão de montes cobertos de alfazema e giestas e algumas amendoeiras ainda em flor.






Se gostámos dos 5km a descer até ao Côa, a seguir amámos os 10km a subir… Aqui afastámo-nos do rio, sendo a etapa com menos pontos de água no entanto, o muito que subimos pela Serra da Marofa permitiu-nos vislumbrar a imensidão daquela serra, continuávamos sem ver ninguém, passámos por três pequenas aldeias completamente desertas.
Fizemos meia dúzia de kms por estrada até à Reserva da Faia Brava. Esta reserva tem cerca de 850 hectares, foi a primeira área protegida privada do país exclusivamente para a conservação da natureza, onde os proprietários florestais colaboram para desenvolver um projecto conjunto de gestão sustentável de habitats importantes.
Pedalámosao lado de vacas maronesas e cavalos garranos em estado semi-selvagem. 




Esta zona caracteriza-se pelos pombais nas suas paisagens, construídos para a domesticação e criação de pombos selvagens. Tinha como principal objectivo a criação dos pombos para aproveitamento dos borrachos para alimentação e para a produção de estrume nos terrenos agrícolas.



Depois de atravessar a Reserva, a próxima povoação foi Algodres onde nos abastecemos de água e vimos o caso mal parado com uma matilha que não estava com muita vontade de nos deixar sair da aldeia. 


Aqui o track foi por estrada até Almendra. Em Almendra o fim-de-semana era de festa, assistimos à banda a tocar e seguimos caminho O tempo andava a ameaçar e nós a conseguir escapar mas, aqui tivemos que nos abrigar numa casa de pedra para que a chuva passasse. chegámos a Castelo Melhor, percebemos que o track não nos levava a subir ao castelo, ufa!.. quando percebemos que nos levava exactamente para o morro mais alto da zona que tem a Capela de S. Gabriel, mas mais uma vez as paisagens compensam as dores nas pernas, que vista fabulosa!



Passamos em Orgal, a última aldeia (também fantasma) antes do final da Rota. Começámos a aproximarmo-nos do fim, esta última parte já é feita por extensas áreas de vinhas e pelo que parecia, uma vez que estávamos no topo e faltavam 4 ou 5 km, seria só descer e curtir os últimos kms. E que descida ao zig-zag por ali a baixo em direcção ao rio… 



Quando chegámos à ponte, onde supostamente terminaria a nossa aventura, percebemos que o track continuava… continuava e acabava no Museu do Côa, bem lá em cima… para acabar em beleza subimos o Vale do Forno, uma antiga calçada murada que nos levou até ao final da nossa travessia. 


Terminámos a última etapa no Museu do Côa com 57km e 1670m de acumulado.



No Museu do Côa esperava-nos o Ricardo Nabais da empresa Rotas e Raízes, engenheiro florestal que trabalhou na GRVC e conhece as entranhas daquelas terras, que nos fez o transporte até Fóios onde deixámos o carro.


No final desta aventura somámos 200km (menos 16km da Rota original pelos desvios BTT dado caudal do rio e os atalhos necessários) e 5300m de acumulado. Subimos muito mas também descemos muito! Que loucura!! Sem quedas, sem furos, sem avarias... e até sem chuva! Perfeito!!

Boas pedaladas! 



Tânia